SESSÃO 7 | 3 DE MARÇO | 14:00-15:45
Moderação de Manuel Fialho (GEO-CML | CH-ULisboa)
O Alto da Vigia (Sintra) e as dinâmicas de utilização de um ribat
14:00-14:30 | Alexandre Gonçalves (UNIARQ) e Helena Catarino (CEAACP)
O sítio arqueológico do Alto da Vigia, estrategicamente implantado numa pequena colina sobranceira ao mar e junto à foz da ribeira de Colares, é conhecido desde o século XVI devido ao aparecimento de inscrições do santuário romano dedicado ao Sol, ao Oceano e à Lua. Trabalhos recentes revelaram uma ocupação de época islâmica compatível com um ribat, do qual foram já identificados três edifícios, dois deles com o seu mihrab/oratório, uma necrópole de rito islâmico e diversos silos escavados na rocha. A única mesquita totalmente escavada até ao momento sofreu diversas reformulações, salientando-se a sua compartimentação interna, para além do registo de várias fases de utilização do espaço, algumas aparentemente incompatíveis com o seu uso religioso. Estas últimas encontram-se materializadas na acumulação de detritos domésticos, associados a fogueiras pouco estruturadas e dispersas de forma pouco ordenada no interior do compartimento. Os escassos materiais recolhidos permitem apenas situar a primeira destas situações num momento posterior aos séculos XI/XII, portanto, coevas das dinâmicas de conquista que as forças cristãs desenvolviam a partir do Norte. Neste ponto, destacam-se os acontecimentos envolvendo o co-monarca e cruzado norueguês Sigurðr jórsalafari Magnússon e o conde D. Henrique, que conduziram à queda do Castelo de Sintra, em 1109, e que se sucedem a outros episódios que culminaram igualmente na tomada temporária da fortaleza no final do século XI. O Alto da Vigia poderá ter desempenhado algum papel naqueles acontecimentos, já que se trata de um local importante na organização da defesa do território, sobretudo se tivermos em conta que, na época, a ribeira de Colares seria navegável na parte final do seu troço, e o seu vale constitui um corredor natural de acesso a Sintra. A construção de uma vigia no local, em 1505, dá justamente testemunho dessa necessidade de controlo do local, que se irá fazer sentir até ao século XIX.
De mesquita a igreja: os casos de Silves e Loulé
14:30-15:00 | Luís Filipe Oliveira (U. Algarve)
NOTAS BIOGRÁFICAS
Alexandre Gonçalves. Licenciado em História, variante de arqueologia, e mestre em arqueologia pela Faculdade de Letras de Lisboa. Começou por trabalhar em arqueologia comercial, ingressando depois na Câmara Municipal de Sintra, no Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas. Nesse âmbito, dirigiu vários trabalhos arqueológicos decorrentes de intervenções de salvaguarda, bem como de valorização de sítios arqueológicos. Dirigiu escavações no Alto da Vigia, incluindo o desenvolvimento de um projecto de investigação plurianual. É investigador do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, UNIARQ.
Helena Catarino. Professora aposentada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (DHEEAA-FLUC) e investigadora integrada no Centro de Estudos Arqueológicos, Artes e Ciências do Património (CEAACP-FCT). Doutorada em Arqueologia, em 1997, pela mesma universidade, com a tese intitulada: “O Algarve Oriental durante a Ocupação Islâmica: Povoamento Rural e Recintos Fortificados”, publicada, em três volumes, na revista Al’Ulyã, n.º 6, editada pelo Arquivo Histórico Municipal de Loulé. Em mais de 40 anos de investigação e docência, desenvolveu projectos de arqueologia medieval e islâmica, destacando-se os estudos em Alcoutim e na Serra Algarvia, bem como as fortificações de taipa: no Castelo de Salir (Loulé) e no Castelo de Paderne (Albufeira). Dirigiu outras escavações, nomeadamente no Campo Militar de S. Jorge de Aljubarrota e no Pátio da Universidade de Coimbra. Tem mais de cem títulos publicados, individuais e em colaboração, e, nos últimos anos, sobre cerâmicas islâmicas, no âmbito do Grupo CIGA, de que é membro desde a sua fundação. Este grupo está integrado numa linha de investigação no Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP), funcionando como Secção do Campo Arqueológico de Mértola (CAM).
Luís Filipe Oliveira. Luís Filipe Oliveira é professor auxiliar da Universidade do Algarve e investigador integrado do Instituto de Estudos Medievais da FCSH da Universidade Nova de Lisboa. É actualmente director da Medievalista, a revista em linha do IEM, de cujo Conselho de Redacção faz parte desde 2007. É ainda membro do Conselho Científico das revistas E-Strategica, da Associação Ibérica de História Militar, Estudios Medievales Hispánicos, da Universidade Autónoma de Madrid, e Alcanate: Revista de Estudios Alfonsíes, da Universidade de Sevilha. Tem vários trabalhos publicados sobre as Ordens Militares, a Reconquista e a Cruzada. É autor de A Coroa, os Mestres e os Comendadores: As Ordens Militares de Avis e de Santiago (1330-1449), Faro, Universidade do Algarve, 2009. Com Philippe Josserand e Damien Carraz, dirigiu a edição de Élites et Ordres Militaires au Moyen Âge. Rencontre autor D’Alain Demurger, Madrid, Casa de Velázquez, 2015, co-dirigiu outros estudos sobre a história de Lisboa (Lisboa Medieval. Os Rostos da Cidade, Lisboa, Livros Horizonte, 2007; Lisboa Medieval: Gentes, Espaços e Poderes, Lisboa, IEM, 2016), tendo coordenado a edição de As Comendas Urbanas das Ordens Militares, Lisboa, Colibri, 2016, e comissariado o núcleo medieval da exposição e do catálogo Loulé. Territórios, Memórias, Identidades, Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia-Imprensa Nacional, 2017, pp. 572-627. Tem colaboração dispersa por obras colectivas: Bernardo Vasconcelos e Sousa (dir.), Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento. Guia Histórico, Lisboa, Livros Horizonte, 2005 (3.ª ed. revista e ampliada, 2016); Alan Murray (dir.), The Crusades. An Encyclopedia, 4 vols. Santa Barbara, 2006; Nicole Bériou e Philippe Josserand (dirs.), Dictionaire des Ordres Militaires au Moyen Age, Paris, 2009; João Luís Fontes (dir.), Bispos e Arcebispos de Lisboa, Lisboa, Horizonte, 2018; ou na História Global de Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores, 2020.