SESSÃO 4 | 2 DE MARÇO | 16:00-17:45

Sessão 4 | Moderação de Catarina Tente (IEM)


Mesquitas no Gharb al-Andalus: era uma vez o mundo islâmico

16:00-16:30 |  Santiago Macias (NOVA FCSH)

As mesquitas do Gharb passaram, após a Reconquista, por rápidos processos de sacralização. A invocação de Santa Maria ou de Santiago foi quase sempre suficiente para eliminar a memória da fé islâmica. Em sítios como Mértola, contudo, a falta de recursos financeiros levou a um processo de adaptação com tanto de insólito como de pragmático. Situações bem diversas ocorreram em Elvas ou em Lisboa, onde a recordação das antigas mesquitas perdurou.

A mesquita: um espaço sagrado polifuncional

16:30-17:00 | Ana Miranda (LAQV-REQUIMTE | CH-ULisboa | UNIARQ)

A mesquita é, no islão, o principal espaço sagrado, no qual decorrem celebrações e rituais religiosos que unem a comunidade muçulmana. A mesquita desempenha, contudo, outros papéis. É um local de afirmação do poder político e do poder económico. Além disso, tem uma função administrativa, educativa, de assistência e de socialização, estando, por isso, presente em diversas dimensões da vida do crente. Este carácter polifuncional gera, por vezes, competição e conflitos entre os actores que corporizam as suas diferentes facetas. A tratadística, a par das compilações de fatāwā, expõem tensões, por exemplo, entre a função religiosa e a educativa, bem como entre a função de assistência e a função económica. Tais fricções crescem ao longo do século XI e XII, à medida que a sociedade do al-Andalus se complexifica, fruto da evolução política, económica e cultural.

A mesquita aljama como despojo de guerra e momento fundacional de uma nova ordem política. Observação a partir dos casos de Marraquexe e Lisboa, 1147

17:00-17:30 |  Inês Lourinho (CH-ULisboa)

O ocaso do império almorávida, em 1147, precipitado pela guerra travada em diversas frentes num extenso território com dimensão africana e europeia, levou à disputa dos despojos pelos muitos adversários políticos dos senhores de Marraquexe. Com a conquista territorial, veio o saque, constituído por bens móveis, animais e até seres humanos, mas também por bens imóveis. Declara Ibn Khaldūn, na sua Muqqadimah, que “os monumentos de uma dinastia são as suas construções e os seus grandes edifícios. São proporcionais ao poder inicial da dinastia”. Se a premissa é verdadeira, então, temos de aceitar como correlato que a intervenção sobre essas construções marca simbólica e politicamente a vitória de uma dinastia que desafiou o poder sobre outra que o perdeu. No epicentro da cidade muçulmana, está a mesquita aljama, onde é proferida a khuṭba – o sermão – em nome do soberano na oração de sexta-feira e, com isso, são feitos e desfeitos programas políticos e lealdades. Cristãos ou muçulmanos, os adversários sabem que, uma vez conquistada a cidade, é aqui que nasce uma nova ordem política. As opções variam com os objectivos, mas podem incluir a apropriação, eventualmente com modificações simples, o abandono ou a destruição, parcial ou total. Em Marraquexe e em Lisboa, o fim almorávida trouxe a destruição quase imediata, parcial e com abandono, no primeiro caso, e total, no segundo. Quais os motivos para estas decisões, que, por comparação com outros casos no Magrebe e no al-Andalus, parecem ter sido mais a excepção do que a regra?


NOTAS BIOGRÁFICAS

Santiago Macias. Cinquenta e nove anos, natural de Moura. Doutorado em História pela Universidade de Lyon2 (França), é investigador do Campo Arqueológico de Mértola e professor convidado na Universidade Nova de Lisboa. Autor de vários livros sobre o período islâmico. Comissário científico de, entre outras exposições, “Portugal Islâmico” (1998) e “Guerreiros e Mártires” (2020). Director do Panteão Nacional desde Abril de 2021.

Ana Miranda. Doutorada em História Medieval pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a tese “Ulemas do Ġarb al-Andalus no Séc. 5/XI. Análise a partir da Prosopografía de los Ulemas de al-Andalus (EEA-CSIC)”, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Investigadora pós-doutoral no projecto Arqueologia da Cor – Os Materiais e as Técnicas da Cor da Escultura Medieval Portuguesa. Investigadora integrada do LAQV REQUIMTE e colaboradora do CH-ULisboa e da UNIARQ. Principais temas de trabalho: história do al-Andalus e história do mundo islâmico e medieval, com enfoque na produção e circulação de bens, técnicas e conhecimento, elites letradas e cultura de fronteira.

Inês Lourinho. Doutorou-se em História Medieval, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 2018, com a tese Fronteira do Gharb al-Andalus: Terreno de Confronto entre Almorávidas e Cristãos (1093-1147). A década anterior dedicou-a ao estudo do al-Andalus e do Magrebe, das relações entre cristãos e muçulmanos, dos contextos políticos e das dinâmicas da guerra de fronteira, que culminaram na fundação do reino de Portugal. Em todos os trabalhos, confronta as fontes cristãs com as muçulmanas, na busca de um ponto de observação mais equilibrado entre as partes, uma metodologia influenciada pela formação inicial em Ciências da Comunicação, licenciatura que completou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É historiadora – e é jornalista.

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