SESSÃO 2 | 2 DE MARÇO | 11:00-12:45
Sessão 2 | Moderação de António Marques (CAL-CML)
Acerca da sobreposição cultural na Idade Média. Reflexão a partir dos vestígios islâmicos identificados no claustro da Sé de Lisboa
11:00-11:30 | Paulo Almeida Fernandes (NOVA FCSH)
Muitas vezes, a sequência de tempos históricos é contada a partir da sobreposição civilizacional e cultural por parte de povos que se sucederam na ocupação dos mesmos espaços. Esta sobreposição não se limitou à substituição de edifícios por outros mais adaptados à função e à imagem dos novos ocupantes de determinado lugar. Na história medieval do ocidente peninsular, registaram-se destruições e construções, mas também adaptações, reaproveitamentos e surpreendentes preservações. Ao contrário do que tem passado para a opinião pública, a extraordinariamente longa escavação no claustro da Sé de Lisboa não forneceu ainda elementos inequívocos a respeito de uma supostamente natural sobreposição da catedral românica sobre uma mesquita almorávida. Este é o ponto de partida para uma reflexão acerca da distância que tantas vezes se manifesta entre o registo escrito medieval e a evidência arqueológica actual.
A "Igeja que foy misquita" de Mértola
11:30-12:00 | Susana Gómez Martínez (UÉ|CAM-CEAACP)
No desenho que Duarte Darmas fez de Mértola em 1509, podemos ler “Igeja que foy misquita”, testemunho inegável da consciência que ainda se tinha do passado muçulmano do templo cristão. Nessa altura, o processo de lenta transformação do edifício ainda não tinha modificado o sistema de coberturas da mesquita e o minarete ainda se encontrava em pé. Analisamos, aqui, a evolução do templo desde as suas fundações, rodeadas ainda de muitas dúvidas, até às modificações propugnadas para o seu futuro no século XXI.
A mesquita aljama de Coimbra. Hipótese de identificação através de uma análise do tecido urbano
12:00-12:30 | Pedro Vasco Martins (FormaUrbis Lab - FAUL)
Coimbra foi uma das mais relevantes cidades islâmicas no oeste da Península. A cidade teria certamente tido uma mesquita maior ou aljama, parte central da vida da importante comunidade islâmica, no entanto, não há até ao momento qualquer indício que permita identificar a sua localização, permanecendo esta questão como uma das mais intrigantes lacunas na história da cidade. Considerando que a evolução da forma urbana é definida pela construção contínua de novos edifícios que se adaptam aos elementos pré-existentes, esse processo preserva frequentemente restos de estruturas antigas, permitindo-nos ler, interpretar e reconstruir a forma passada da cidade. Assim, na ausência das tradicionais evidências arqueológicas ou históricas, a realização de um estudo morfológico do tecido urbano pode ser uma importante fonte complementar de informação. De facto, esta abordagem metodológica não só permite a identificação de um novo edifício nunca considerado, a antiga Igreja de S. Pedro claramente numa posição anómala em relação ao circundante tecido urbano, como através da comparação com outros casos oferece ainda a possibilidade de interpretar e reconstruir a forma da antiga mesquita aljama de Coimbra, bem como a sua provável cronologia inicial e posterior conversão em igreja.NOTAS BIOGRÁFICAS
Paulo Almeida Fernandes (Lisboa, 1974). Doutor em História da Arte pela Universidade de Coimbra e mestre em Arte, Património e Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, instituição onde se licenciou em História, variante de História da Arte. Na atualidade, é professor auxiliar convidado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e coordenador dos Serviços de Investigação e Inventário do Museu de Lisboa. É ainda investigador integrado do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e colaborador do Instituto de Estudos Medievais.
Susana Gómez Martínez. Doutorada pela Universidad Complutense de Madrid (2004), é professora auxiliar da Universidade de Évora desde 2019. E investigadora do Campo Arqueológico de Mértola desde 1992, integrada no Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Ciências do Património desde 2008. Colabora com outros centros de investigação de Portugal e Espanha, nomeadamente o CIDEHUS e o Laboratório Hércules. Foi bolseira de doutoramento (1997-2000) e de pós-doutoramento (2008-2009) da FCT, e investigadora do Programa Ciência 2008 (FCT) na Universidade de Coimbra (2009-2014). Dedica a sua investigação à história e arqueologia medievais e modernas, com especial incidência no período islâmico, mas também desenvolve uma intensa atividade ligada à valorização do património cultural.
Pedro Vasco Martins. Arquitecto. Licenciado em Arquitectura de Gestão Urbanística pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Desenvolve tese de doutoramento com o tema “A persistência das formas urbanas. Leitura das pré-existências na construção da cidade portuguesa”, com uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, e é membro investigador do FormaUrbis Lab, na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa.