SESSÃO 1 | 2 DE MARÇO | 9:30-10:45

Moderação de Carlos Fabião (UNIARQ)


Resultados das escavações arqueológicas realizadas no Claustro da Sé de Lisboa e o seu contributo para o estudo dos espaços de culto

9:30-10:00 | Ana Gomes e Alexandra Gaspar (DGPC)

As escavações arqueológicas realizadas no Claustro da Sé de Lisboa permitiram fazer uma leitura diacrónica desde a Idade do Ferro até à construção do claustro em finais do século XIII, inícios do XIV. No âmbito do Projecto de Recuperação e Valorização da Sé Patriarcal de Lisboa (a decorrer desde 2018), foi possível realizar uma intervenção arqueológica na área sul, tendo-se identificado dois novos andares, que poderão integrar o complexo da mesquita aljama de Lisboa – que, na sua totalidade, abrange uma área de cerca de 200 m2 –, cuja cronologia de ocupação data de inícios do século XII, estando em funcionamento até à conquista de Lisboa, em 1147, e à progressiva transformação de toda a área em pátio e claustro da Sé Catedral. É nosso objectivo, neste trabalho, apresentar estas novas estruturas, com base na análise arqueológica e de algumas fontes, propor a sua integração no complexo da mesquita principal da Lisboa muçulmana da época almorávida e analisar a transformação desta área num espaço cristão.


Espaços de institucionalização de poderes: catedrais e mesquitas na Ibéria medieval (séculos XI-XIII)

10:00-10:30 | Maria João Branco (IEM) e Hermenegildo Fernandes (CH-ULisboa)

Faz-se, em perspectiva comparativa, um estudo dos processos de institucionalização em catedrais e mesquitas da Hispânia medieval, com particular atenção ao reino de Portugal e à parte do Gharb al-Andalus que este incorpora. O fio condutor assenta nas analogias geradas por contextos de mudança e instabilidade no que diz respeito às formas de institucionalização de espaços sagrados, considerando as práticas rituais e os processos através dos quais os espaços são activados. A base heurística é sempre documental, com particular relevância para textos narrativos e normativos. Considera-se, em primeiro lugar através do De Expugnatione, a reconfiguração da aljama de al-Ushbuna em Sé, por meio de um ritual de purificação que institucionaliza a reversão e que poderá ecoar aquela praticada pelo então emir 'Abd al-Rahman III em Bobastro. Interroga-se de seguida, já em contexto de domínio político cristão, as formas políticas e sociais de activação dos sítios. Interessa-nos  sobretudo o seu uso social assim como a construção de uma ficção sobre a instituição baseada nos papeis que ela desempenha junto das comunidades e do poder real. Toda esta rede de relações se desenrola sobre uma paisagem urbana e é particularmente adequada para a examinar em movimento.


NOTAS BIOGRÁFICAS

Alexandra Gaspar. Mestre em Arqueologia Urbana pela Universidade do Minho. Trabalha na – Divisão de Salvaguarda do Património Arquitectónico e Arqueológico, da Direcção-Geral do Património Cultural desde 1995. Tem feito investigação científica na área da arqueologia urbana, tendo dirigido escavações arqueológicas, e coordenado equipas e projectos, desde 1982, em Braga (1982-86) e Lisboa (a partir de 1995). Dos seus interesses de investigação, contam-se o urbanismo e as cerâmicas arqueológicas romanas e medievais. Entre outros, coordenou o projecto de escavações arqueológicas no Castelo de São Jorge e na Sé de Lisboa. Participou nos projectos de musealização das ruínas arqueológicas e núcleo museológico do Castelo de S. Jorge e da Sé de Lisboa (em curso). Tem publicado sobre urbanismo, cerâmicas arqueológicas e musealização de sítios arqueológicos.

Ana Gomes. Mestre em Arqueologia Urbana (Universidade do Minho), licenciada em arqueologia (Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa). Exerce atualmente funções de técnica superior na DGPC, onde tem vindo a coordenar e a dirigir diversos trabalhos arqueológicos em monumentos e sítios classificados e zonas de proteção na cidade de Lisboa, particularmente no Castelo de São Jorge e na Sé de Lisboa. Este trabalho tem sido complementado com a coordenação de projectos recuperação, valorização e elaboração dos programas de musealização, já executados, nomeadamente: Praça Nova do Castelo de São Jorge, programa de musealização da área arqueológica do Hotel do Cais de Santarém (Lisboa); programa-base da musealização das ruínas arqueológicas do Hotel da Rua do Arsenal (Lisboa); e projecto de musealização das estruturas arqueológicas do Claustro da Sé de Lisboa (em execução). As suas principais áreas de interesse científico são: arqueologia do período islâmico , estudos de urbanismo e estudo de cerâmicas. Interessa-se pela valorização do património arqueológico, aplicação de novas tecnologias e gestão de sítios arqueológico. Autora e co-autora de publicações em revistas nacionais e internacionais sobre diferentes temas – estudos urbanos, estudos de cerâmica e musealização de sítios arqueológico.

Hermenegildo Fernandes.  Professor Catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde ensina e investiga em História Medieval desde 1987. Tem-se dedicado sobretudo às Sociedades de Fronteira hispânicas, através das quais tem observado a interacção entre o al-Andalus e os reinos cristãos, assim como, mais recentemente, à História das Universidades, centrando-se as suas publicações nestas áreas. Destaca entre elas a biografia de Sancho II. Orientou ou orienta cerca de uma dezena de teses de doutoramento e uma vintena de mestrado. Foi Subdirector da FLUL, Director do Centro de História da ULisboa e é hoje Director da Área de História da FLUL.

Maria João Branco. Professora Associada de História Medieval na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde ingressou em 2011 e onde coordena o Doutoramento em Estudos Medievais em e-learning (em parceria com a UAb). Foi directora do Instituto de Estudos Medievais da NOVA FCSH, entre 2016 e 2021. De 1991 a 2011 foi docente da Universidade Aberta, onde desempenhou funções como Diretora do Departamento de Ciências Humanas e Sociais (2006- 2009). Entre 2001 e 2003 foi Directora do Centro Camões de Língua e Cultura Portuguesas em Oxford, onde também foi Fellow do St. John’s College e docente do Departamento de História daquela Universidade. Concluiu o seu Mestrado em 1990, em História Medieval, pela NOVA FCSH, com uma tese sobre Esgueira, uma aldeia medieval do século XV, e doutorou-se em 2000, pela Universidade Aberta, com uma tese sobre a construção do poder real no Portugal dos séculos XII e XIII. As suas áreas de investigação pessoal são a construção do poder real e as elites eclesiásticas ligadas ao poder político, as relações entre o papado e Portugal até meados do século XIII, a criação de identidades e os processos de institucionalização de poderes. Publicou mais de 50 capítulos e artigos em livros e revistas nacionais e internacionais. É autora de três livros a título individual, de quatro em colaboração com outros colegas e ainda co-coordenou cinco volumes colaborativos. É membro da Academia Portuguesa de História na categoria de Académica Correspondente e da Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais como membro da Direcção.